O papel da arquitetura e em especial do design dentro das nossas vidas, embora pareça um fenômeno muito moderno é, de fato, um elemento que tem acompanhado nosso desenvolvimento como seres humanos deste os tempos ancestrais. Os objetos, construções e espaços que nos rodeiam não somente desempenharam um papel fundamental para nossa sobrevivência e desenvolvimento como sociedade, mas também nele depositamos nossa memória coletiva, pessoal e íntima. Ao tocar um velho toca-discos ou caminhar por uma antiga rua da nossa cidade, a memória de um tempo passado vem à nossa mente e o que uma vez definimos como lar, agora define a nós mesmos.
O próprio título do filme “Oblivion” (esquecimento) já antecede a situação dos seus protagonistas. Vivendo em um futuro devastado por uma grande guerra a nível planetário e após uma série de catástrofes naturais a humanidade se refugia no espaço diante da impossibilidade de reconstruir a civilização. Sua única esperança é reunir o que lhe resta de recursos naturais para empreender uma viagem a outro mundo. Para isso, dois dos seus cidadãos elite formam uma dupla e em total solidão, dedicam seu tempo a supervisão e manutenção de maquinários de tecnologia indecifrável.
Sua solidão é compensada com um habitat idílico, asséptico e repleto da mais alta tecnologia. Todos seus espaços e mobiliário estão desenhados de um ponto de vista funcional, com um estilo espacial, pré-fabricado, onde predomina o branco e o emprego do metal e vidro. E como uma torre de vigilância que tudo observa, descansa no alto das nuvens.
Embora os protagonistas habitem tal lugar com eficiência e preencham seus espaços com espontaneidade, suas vidas não deixam de parecer artificiais e em ambos o sentimento de nostalgia sempre está presente. As explorações regulares em direção ao território degradado da antiga terra aumentam tal sensação, ainda mais quando o contato com antigos espaços e objetos desatam uma série de memórias que não deveriam existir dentro deles.
Apesar do enredo esconder um segredo, algo típico das histórias de ficção científica clássicas, é memorável a utilização do espaço como recipiente da memória. Não é coincidência que o diretor do filme seja arquiteto de profissão, não somente pela presença de um desenho bem elaborado e chamativo durante todo o filme, mas também pelo papel do espaço como um ator a mais dentro da narrativa.
O filme, no seu conjunto, mais além de uma história de ação, é uma curiosa e sutil crítica ao modo de vida que degenerou a modernidade. Atualmente, parecemos obcecados por habitar espaços de grande desenho, de estilos minimalistas e industrializados que rompem totalmente com a cultura do passado. Buscamos neles uma nova identidade, mas isso não é mais que uma imagem artificial de algo que não somos e que nunca seremos.
Quando o protagonista viaja a uma pequena cabana no bosque, suja e descuidada, encontra nela mais aconchego do que no seu refúgio tecnológico nas nuvens. Não somente os objetos e sua semiótica ocultam sua história, mas também aquele contato com a natureza lhe traz paz e harmonia que nada artificial pode trazer. Justamente grande parte de tal cotidianidade é que o movimento moderno esquecido ao estabelecer suas pautas sobre o que deveria ser a vida humana.
Somos nós que damos um significado aos objetos e aos espaços, ou são eles que dão significado a nossa vida? A arquitetura não somente é um envoltório do nosso desenvolvimento, mas também da nossa memória. Resguardam a história de um povoado, de uma nação, de um indivíduo que a habita. A arquitetura é a lembrança que se solidificou e criou forma para toda a eternidade.
Perfil do Diretor
Joseph Kosinki nasceu no dia 3 de maio de 1974, na cidade de Marshalltown em Iowa, Estados Unidos. Na sua juventude foi aluno da “Columbia Graduate School of Architecture, Planning and Preservation” na qual sempre demostrou grandes habilidades na representação visual mediante meios tecnológicos virtuais. Em 2005 escreveu a novela gráfica “Oblivion” para a Radical Books, que mais tarde seria adaptada ao cinema no ano 2013, sob o mesmo nome.
Ele conta com uma carreira cinematográfica muito escassa devido a sua juventude, dedicando-se principalmente a comerciais para a televisão e a trabalhar com imagens geradas pelo computador, realizando curtas publicitários para videogames, tais como Halo 3 e Gears of War.
Em 2009, a reconhecida empresa de animação Disney, o contratou para dirigir um filme de ficção científica baseada quase inteiramente em efeitos especiais. "Tron Legacy" se tornaria seu debut como diretor no cinema, ostentando uma exposição técnica em que o uso de efeitos especiais se misturam com a gravação tradicional em "sets" reais.
Atualmente é professor adjunto da sua universidade de origem, onde ensina aos estudantes como usar novas tecnologias para a modelagem e representação visual da arquitetura.
CENAS CHAVE
1. Sky Tower / Revival Futurista
De formas curvas, superfícies lisas e contínuas, a moradia segue os cânones da arquitetura futurista da metade do século XX, como a casa Stahl de Pierre Koening na qual se inspira.
2. Habitat sem Gravidade, Funcional mas sem Alma
Por dentro parece um ambiente asséptico, funcional e tecnológico. Sua paleta de cores integrada por brancos, cinzas tênues e azuis faz referência ao próprio céu onde é situada.
3. O Semideus Pós-moderno
Rodeado por uma tecnologia avançada, o herói se mostra como um ser superior diante do resto dos humanos. Tal diferença aumenta ao habitar um plano superior entre os céus.
4. A Culto a Tecnologia
Diante da sua estética chamativa e poderosa, os protagonistas tornaram-se dependentes de um modo de vida artificial mais além do racional. Seu habitat é a prisão mais bela do mundo.
5. Simbolismo da Arquitetura
O elemento protagonista da moradia é sua escada, cuja forma é uma analogia da estrutura do DNA, deixando entrever a origem artificial dos protagonistas.
6. Nadando entre as Nuvens
Com o predomínio de linhas horizontais, a moradia se funde com o espaço infinito. Sua presença se contrapõe com a cidade moderna que jaz enterrada abaixo da superfície.
7. A Tumba da Civilização
Mostrando um território cheio de solidão, o planeta inteiro tornou-se uma ruína arqueológica. A arquitetura e o urbanismo misturam-se com a paisagem que volta ao seu equilíbrio.
8. Arquitetura da Memória
Ao contrário da casa entre as nuvens, o protagonista encontra abrigo em uma cabana no bosque. Apesar da sua origem artificial, a ligação que existe com seu passado natural é mais forte.
9. A Semiótica do Cotidiano
Mesmo quando não são sofisticados, nos objetos cotidianos o protagonista encontra sua história. Cada um esconde uma história que é parte do coletivo da civilização.
10. Estratificação Estética
Refugiados nas antigas construções abaixo da terra, os sobreviventes da civilização vivem em ambientes escuros, sujos e deprimentes, utilizando uma tecnologia arcaica.
11. Arquitetura de Outros Mundos
Analisando nossa civilização, um agente alienígena desenvolve estruturas colossais, baseadas em uma geometria funcional sem nenhum traço histórico com o qual nos vincula.
12. A Inteligência Anônima
A fim de manter o mistério da sua origem, a inteligência alienígena foi retratada unicamente com base em figuras geométricas, cujo caráter responde a uma funcionalidade absoluta.
FICHA TÉCNICA
Data de Estreia: 12 de abril 2013
Duração: 124 min.
Gênero: Ação / Ficção Científica
Diretor: Joseph Kosinski
Roteiro: Karl Gajdusek / Michael Arndt
Fotografia: Claudio Miranda
Adaptação: Oblivion, livro ilustrado
SINOPSE
No ano 2013, a Terra encontra-se devastada após uma guerra alienígena. Mesmo a humanidade prevalecendo, o planeta ficou inabitável e a população foi evacuada à lua Titan, do planeta Saturno. Jack Harper, um antigo militar, é um dos últimos homens que habitam a Terra. Engenheiro de drones forma parte da operação para extrair recursos vitais do planeta.
De maneira rotineira, patrulha os céus, até que um dia se vê obrigado a resgatar uma mulher desconhecida de uma nave espacial, o que desencadeia uma série de acontecimentos que questionaram suas convecções.
Cine y Arquitectura: Las Estructuras Futurísticas de Oblivion